
CONHEÇA OS PONTOS TURÍSTICOS

A criação do Parque Estadual Vila Rica do Espírito Santo
A criação do Parque ocorreu por decreto estadual em 1983, com 358 hectares é recortado com trilhas que permite contato com o bioma da floresta tropical com perobas, figueiras, canelas, entre outras arvores típicas da região. O Parque foi criado com intuito de preservar resquícios da cidade colonial espanhola Villa Rica del Espiritu Santu, fundada pelos espanhóis em 1589 com objetivo de proteger os limites de sua fronteira na então Província del Guairá, conforme previsto pelo Tratado de Tordesilhas (1494), que determinava que uma linha imaginária passasse a 370 léguas do arquipélago de Cabo Verde como fronteira, sendo o território a oeste da linha pertencente à Espanha e ao leste, a Portugal, assim como já havia feito com duas outras cidades: Ontiveiros (1554) e Ciudad Real (1556).


O governo espanhol e as reduções jesuíticas
O governo espanhol, para a conquista da Província del Guayrá, além do estabelecimento de cidades, implantou reduções jesuíticas com objetivo de cristianizar os nativos e ao mesmo tempo tentar apaziguar os conflitos e resistências, facilitando a presença dos colonos espanhóis nessas terras. Observem, no mapa, a quantidade de reduções jesuíticas e a localização de cada uma delas em comparação com Villa Rica.

A fundação de Villa Rica
Villa Rica havia sido fundada em outro local em 1570 e associada à expectativa de que houvesse ouro na região, mas foi transferida por motivo de uma epidemia de varíola, que havia resultado em mais de 4 mil mortes na região, portanto o novo local escolhido foi junto à foz do Rio Corumbataí, no Rio Ivaí.
Para início da área urbana, foi construída uma Igreja com uma grande cruz ao lado e uma fortaleza. A parte urbana do povoado foi repartida entre os espanhóis, com solares (terrenos) para a construção de casas dentro da vila e terras para chácaras, efetivando, assim, a ocupação. Além disso, os espanhóis receberam índios para os trabalhos, tanto domésticos, quanto agrícolas. Para esse povoado, foi nomeado um alcaide (uma espécie de governador do povoado) e concedidos 24 arcabuceros (soldados). A principal atividade econômica de Villa Rica passou a ser a extração da erva-mate – moeda corrente no Guayrá.
As pesquisas e escavações arqueológicas sobre Villa Rica del Espiritu Santu revelaram características interessantes sobre a estrutura urbanística da cidade. Como vocês podem observar, na imagem que segue, um pouco do plano urbanístico de Villa Rica, que é resultado das pesquisas realizadas pela arqueóloga Claudia Parellada.

A estrutura das cidades coloniais espanholas do final do século XVI
Essa estrutura urbanística de Villa Rica segue o modelo das cidades coloniais espanholas do final do século XVI, baseadas na lei de Felipe II, em 1573. A área urbana da segunda fundação tinha cerca de 300.000 m2. A estrutura urbana é marcada por quadras quase sempre de mesmo tamanho e ruas retas, ficando ao centro, a praça. Em torno da praça, os terrenos eram reservados à Igreja, edifícios reais e municipais, às lojas e casas de mercadores. As construções eram feitas em taipa de pilão e madeira, com coberturas de telhas do tipo colonial de encaixe, com largos beirais para proteção da taipa de pilão. Na sequência, uma imagem que representa a construção de um muro de taipa de pilão.

Entre as construções de Villa Rica, algumas destacavam-se em alvenaria de pedra, acompanhadas de poços para captação de água e fornos para fundição de metais. As quadras de dimensões de 100x100, eram cercadas por muros de aproximadamente 1,80 de altura e 60 cm de largura. Dentro das quadras, havia as delimitações dos terrenos e as casas de taipa de pilão. Com base nas escavações arqueológicas, foram encontrados vestígios de 26 casas. Essas casas eram pequenas, com dimensões de 4X4m até 15X12m. A Igreja tinha dimensões de aproximadamente 27x15m e era dedicada a São João Batista. Ao lado da Igreja, havia um cemitério. Portanto, ao redor da praça, é provável que tenha existido também a cadeia pública, o Cabildo (prefeitura) e duas casas de religiosos. Ao redor da cidade, eram constituídas chácaras para produção de subsistência, com hortas e plantações de frutas (videiras e laranjais) com lotes de 650m x 6500m.
Atualmente não ser possível visualizar os resquícios da arquitetura e estrutura urbanística da cidade no Parque, mas é possível uma experiência do contato com o ambiente da antiga cidade e que ora ou outra ainda é possível encontrar peças e artefatos de época em áreas próximas as trilhas do Parque.
Villa Rica del Espiritu Santo segue o modelo de cidade colonial espanhola do século XVI, com o mesmo traçado urbano de outras cidades da América espanhola da mesma época. Um bom exemplo é a cidade de Córdoba, na Argentina. A malha urbana dessa cidade segue o traçado do tipo tabuleiro de xadrez, em que as ruas cruzam-se em ângulo reto e os quarteirões possuem o mesmo tamanho, muito diferente do modelo português, que era menos ordenado e, no século XVI, sem uma clara política de urbanização. Vejam na sequência, o mapa de Córdoba e as semelhanças com a estrutura urbana de Villa Rica del Espiritu Santo.

A guerra entre espanhóis e bandeirantes paulistas
No entanto, ao contrário dos planos da coroa espanhola, a implantação das reduções jesuítas, além da aproximação com índios de tribos mais distantes de Villa Rica, acabou atraindo e abrigando sob sua proteção índios fugidos da ação dos encomenderos villariquenhos. Esse fato resultou na diminuição de mão de obra dos colonos espanhóis para o trabalho de extração da erva-mate, o que gerou conflito com os jesuítas. O resultado desses embates entre colonos villariquenhos e jesuítas foi o enfraquecimento, tanto das reduções jesuíticas, que passaram a não mais receber armas e proteção dos espanhóis frente aos ataques de tribos indígenas hostis e das investidas dos bandeirantes paulistas no aprisionamento de indígenas, como na destruição das reduções. Por outro lado, os villariquenhos não podiam mais contar com a mão de obra indígena para extração da erva-mate, gerando perdas econômicas e acúmulo de dívidas. A pobreza na cidade de Villa Rica passou a ficar explícita nos documentos de época, a redução da disponibilidade de alimentos era cada vez maior, resultando na saída das famílias espanholas villariquenhas.
Com o enfraquecimento do poder dos jesuítas e espanhóis, os bandeirantes paulistas perceberam que a Província del Guayrá era alvo fácil para captura de índios para serem utilizados como mão de obra escrava na agricultura paulista. Além disso, as condições eram favoráveis, inclusive para ampliação das fronteiras portuguesas e domínio de novos territórios.
Observem atentamente, no mapa que segue, a linha do Tratado de Tordesilhas, que dividia os domínios das coroas espanhola e portuguesa e os caminhos percorridos pelos bandeirantes, em especial pelas expedições de Raposo Tavares.

A destruição de Villa Rica
Como vocês observaram, houve diferentes expedições para aprisionamento de índios. As reduções, por congregarem um grande número de índios, eram alvo preferido dos bandeirantes. As expedições no Guayrá, com participação de Raposo Tavares, ocorreram entre 1628 e 1633, no entanto, muitas ações de aprisionamento indígena já vinham acontecendo nessas terras de forma irregular e informal desde 1595.
É preciso compreender alguns fatores que contribuíram para as expedições dos bandeirantes na Província del Guayrá, como: a cumplicidade do governador do Paraguai, Xeria, que havia se casado com uma portuguesa do Rio de Janeiro, portanto havia estabelecido alianças com os portugueses, resultando na perda de território já colonizado; a cooperação de espanhóis com os portugueses paulistas, devido aos casamentos realizados entre eles; a contribuição de alguns caciques guairenhos que buscavam poder, nesse caso, com apoio dos bandeirantes.
Em agosto de 1632, depois de alguns meses com a cidade sitiada pelos bandeirantes paulistas, a vinda do bispo de Assunção, Cristóbal de Aresti, e a verificação das condições precárias de Villa Rica e sua impossibilidade de resistência, decidiu-se pela transferência da cidade para além do Rio Paraná. Em outubro de 1632, toda a população de Villa Rica já havia chegado à sua nova morada do outro lado do Rio Paraná, próximo a Serra do Maracaju. Com isso, estava efetivada a saída definitiva dos espanhóis da Província del Guayrá, um ano depois do fim das reduções jesuíticas, que haviam - algumas delas - sido destruídas pelos bandeirantes e outras abandonadas pelos jesuítas.